16 de dezembro de 2008

Tinta na lata...

Preciso ser mais fiel ao meu blog...
Estou para postar este pensamento há algum tempo, mas somente hoje que decidi realmente faze-lo.
Algumas semanas atrás num país bem, bem distante daqui, aonde está sendo realizado uma Bienal muito importante e que todo artista gostaria de ser chamado para participar, houve uma manifestação.
Como não moro neste país e nem entendo sua cultura, pelo que vi das imagens pela tv, pude perceber que eram “apenas” pixadores – apenas: palavra usada pelo repórter.
Mas se eu fosse o repórter, diria: “Os pixadores”.
Sim, Os pixadores, porque acredito que num país pobre e em desenvolvimento – como o deles, tão diferente do nosso, – apenas poucas pessoas passam do “reclamacionista” para o ato de protesto.

“Protesto? Nada disso, isso foi coisa de vândalo...” Outro repórter dando ênfase em “vândalo”.
Péra lá!

Protesto ou vandalismo?
Por ser um país bem, bem distante daqui eu não saberia responder. Pelo o que eu entendi a tv deixou claramente para a opinião pública a informação que foi vandalismo.
Mas ouvindo as informações “corretas” dos jornalistas pude perceber que há algo de muito errado nesse país tão... tão... distante daqui.

Primeiro, se a polícia sabia que os pixadores iriam agir porque não os deteram antes?
Reposta deles: “Nosso pessoal da segurança estava preparada para bloquear a entrada do “grupo” e eles entraram separadamente”.
Calma, preciso de ar... um grupo de “vândalos” são mais espertos que seguranças treinados e qualificados?
Ou houve um certo “deixa eles”??? – publicidade de graça!!! Não! Isso não!!!

Sei lá! Pixar um pavilhão vazio... não é uma falta, TãO, grave não é mesmo? E prenderam uma jovem.
Nesse mesmo país, acreditem, eles tem esculturas lindíssimas e prédios públicos pixados.
No meu país não... os bens públicos são todos respeitados e acreditem, são bem mantidos pelo governo. Isso mesmo, nosso governo cuida das nossas praças, áreas de lazer; bem diferentemente do país deles, que nem as praças são cuidadas, e pior, nem o governo deles sabem aonde tem esculturas e nem cuida delas. E o pior, as escolas são maltratadas, sujas e as vezes sem área de lazer. E os professores? Afe! Eles praticamente não tem condições de trabalho... e o que tem isso? É que no meu país, sim, tem pixadores, mas são poucos. E eles sabem exatamente onde pixar.

Porque tudo aqui é diferente, de novo, as praças são limpas, as ruas são limpas, as escolas são maravilhosas e tem lazer para todo mundo...

Por isso acredito, que eles tinham motivos para protestar, a cidade é imunda...

Eu fui até a Bienal desse país tão, tão distante daqui... até porque seria legal se eu conseguisse entender melhor tudo o que estava rolando, mas estava meio contraditório os espaços, sim porque no andar aonde “estava o vazio” que era o lugar pra gente andar e observar melhor o espaço, estava cheio de segurança, e onde eu pensava poder contemplar o vazio, contemplei nitidamente o medo dos seguranças, talvez, pensando que eu e minha filha de dois anos fossemos pixadores. Ou, que a minha esposa possuía latas de tinta escondida no carrinho de bebê do meu filho de dois meses...

O que eu penso que é o mais contraditório desta Bienal de ARTE neste país tão, tão distante é que a jovem Caroline Sustos tenha sido presa por usar... tinta.

Se fosse no meu país, nós sentaríamos, discutiríamos e refletimos sobre tudo, e mais... antes de apagar tudo rapidamente, perceberíamos que aquela manifestação foi a melhor coisa que aconteceu na Bienal e deixaríamos lá, porque seria uma homenagem as pessoas que questionam o elitismo do nosso país.

A pixação ocorreu no no dia 26 de outubro e Caroline Sustos está presa até hoje, se fosse no meu país, isso se chamaria intervenção artística...

Ah! Sem dizer que no país dela os políticos corruptos que deveriam cuidar da educação, das praças, das ruas e etc, etc e etc... não são presos...
 
Copyright © 2007-2011. Éder RoolT.

Todos os direitos reservados.