19 de fevereiro de 2009

A "droga carnavalesca"...

Muita gente se preparando para desfilar nesse carnaval. Dentre esses: eu. Mais um ano que desfilarei. Como pude, durante tantos anos ser contra uma manifestação popular tão rica e densa?
O melhor de tudo do Carnaval é o ópio que ele exala, sim, o ópio, a “droga carnavalesca” que gera dentro de nós uma alegria contagiante capaz de fazerem as pessoas mais tristes se tornarem os mais felizes.
E como toda droga: seu efeito é passageiro, a sensação de vida se esvai dentre o corpo e a vida se torna real.
E como toda droga: vicia, fazendo com que eu espere um ano inteiro ansioso por este dia.
E diferentemente das drogas ilícitas, a “droga carnavalesca” é vida, é saudável, é alegria...

Por isso eu digo, não experimente o carnaval... se não... vicia...

Bom carnaval para os bons carnavalescos...

3 de fevereiro de 2009

Agnaldo Farias, sua resposta...

Agnaldo Farias me enviou um e-mail certo dia, muito bacana e extenso. E trocando idéias comigo me fez uma pergunta:

“O estudo é a base de tudo e não há mais espaço para amadores. É possível fazer engenharia sem cursar uma faculdade? Sim, mas você há de convir que é muito mais complicado. O que o faz pensar que com arte seja diferente?”

Intuitivamente eu saberia responder esta questão, mas ainda não teoricamente. Pois bem, a minha formação como pintor e escultor são “meio errática”. Diferentemente da maioria dos artistas que saem “prontos das universidades” eu me deixei criar. Vou explicar melhor...

Quando eu era criança sempre ouvi meu pai dizendo: “vai estudar, que ai você vai conseguir serviço!”
Mas eu odiava o fato do meu pai ter que trabalhar porque ele passava muito tempo fora e quase não tinha tempo pra brincar comigo.
Cresci acreditando que estudar era “ruim” e se eu o fizesse, pronto: eu teria que trabalhar... em compensação aprendi a ler muito cedo e “ler” não era considerado estudo para mim... pois bem, sem saber eu estava aprendendo lendo...

Quando entrei na universidade para cursar engenharia eu já era letrado em política, religião, filosofia, física quântica e sempre um apaixonado pelo universo. Apesar de gostar, e muito de arte, eu ainda estava apenas caminhando e foi estudando engenharia que eu aprendi a história da arte a fundo. Eu queria me tornar um colecionador de artes.
Na época da universidade eu sonhava em ser um empresário, um inventor e porque não um cientista...
Durante cinco anos eu devo ter desenvolvido uns cinco projetos diferentes, apresentei aos meus professores e todos eles fugiam de mim... eles deveriam pensar: “mais trabalho? Eu não...”
Desenvolvi um ou outro trabalho pessoalmente sem ajuda de ninguém... e pasmem: mesmo apresentando eles prontos aos professores, sem eles olharem direito (mais trabalho), meus trabalhos nunca foram aceitos...
Na época eu não entendia, hoje ainda não entendo, mas tenho uma explicação. Mas antes de terminar este raciocínio vou escrever mais um pouco.

Me formei na universidade e ai sim, agora eu poderia fazer o que quisesse; fui morar na Europa (segui o caminho dos meus mestres) e depois fui em busca de um mestrado na USP (Universidade de São Paulo). A “melhor do Brasil” (será?). Outra decepção, maior ainda... Apresentei meus projetos aos professores. Alguns nem deram bola pra mim quando eu disse que havia estudado no período noturno. E com um pouco de persistência encontrei um professor que ficou admirado com meus trabalhos e se empenhou em me ajudar. Me apresentou para outros pessoas até encontrar um professor que se dispôs a ser “meu tutor”. Sai todo feliz da USP, iria fazer meu mestrado na “melhor universidade do Brasil”. Contei para meus pais que se encheram de orgulho do “filhão” que depois de alguns meses iria até ser pago para estudar. Separei toda a papelada e preenchi as fichas.

Quando voltei a USP com meus projetos em baixo do braço para conversar melhor com o professor, descobri que eu não iria trabalhar os meus projetos, pelo contrário, eu iria ajudar o professor a concluir a tese de doutorado dele. “Reações químicas num reator de... com relação de não sei o que...” e me jogou uma “caralhada” de livros em inglês par ler e traduzir pra ele. Fiquei arrasado... na mesma hora pedi desculpas ao professor, lhe dei as costas e nunca mais voltei a USP.
Para todo mundo uma atitude irracional, pra mim, muito racional e inteligente...

As artes me seguem desde muito cedo, a principal personagem na minha “formação errática” foi a Tarsila do Amaral quando passou no jornal da globo que um de seus quadros tinha sido vendido por um alto preço (mas nada comparado aos dias de hoje). Todos os meus familiares começaram a falar que era absurdo aquele preço e quem gastava dinheiro com isso era porque não tinha o que fazer... Hoje, não tirando toda a razão deles, hehehe, me perguntei. “Por que?”

Eu tinha uns dez ou doze anos quando me fiz essa pergunta. Pulando alguns detalhes, aos quatorze anos, sozinho, quer dizer com os livros, descobri meu ídolo: “Leonardo da Vinci” que acabou se tornando meu mestre. Durante anos eu pesquisei e me inspirei
Nele. Hoje ele é moda e tem cada livro mais esdrúxulo que o anterior.
Rembrant me ensinou a pintar e me mostrou suas técnicas e seus segredos. Foi ele também que redefiniu o que é arte abstrata pra mim. Meu pensamento: “Não existe arte abstrata”.
Paul Cezzane, como pude... acreditei nele... fazer sua arte isolado do mundo, revolucionar, pintar o que quiser pintar...
Marcel Duchamp, o cara que se estivesse vivo hoje não aceitaria a maioria das instalações de hoje em dia e provavelmente se ele pudesse viajar no futuro ele não teria jogado fora suas teorias antes do pior acontecer...
Kandinsk. Acreditem ou não meu verdadeiro professor de arte, me formei na escola Bauhaus. Algum problema? Além de ver a arte, Kandisnk me inspirou a me deixar fluir pelo mundo da escrita assim brevemente terei meus livros publicados...

Quer saber? Eu devo ter uns sete livros para publicar, nem todos eles devem ser bons do começo ao fim. Uns falam de política, outros de amor, filosofia entre outras coisas. Mas por que nunca os publiquei? Porque nunca quis me expor, eu nunca quis aparecer na “mídia”. Ser artista eu sempre fui, mesmo estudando engenharia, nunca parei de escrever, fiz meus próprios estudos sobre artes e descobri e inventei muitas coisas novas.

Desculpa, mas não gosto de escrever ou falar sobre isso...

Sabendo um pouco de quem eu sou, o rapaz que sempre leu escondido de todo mundo achando que iria ser difamado por causa disso. O rapaz que sempre foi humilde demais e nunca se deixou transparecer nem para os seus amigos.

Hoje, por mim, minha esposa que aliais, a única que entende minhas manias e “maluquices”, por meus filhos e pela humanidade.

Sim, isso mesmo, pela humanidade; quero ser reconhecido como pintor para promover a paz através dos meus trabalhos e minhas idéias. Assim contribuirei para fomentar cultura em todos os povos porque acredito que a educação é uma das mais importantes áreas para a manutenção de nossa espécie.

Sim, Agnaldo Farias, eu cursei engenharia mas eu não precisava ter freqüentado todas aquelas aulas. Foram anos de mesmice e caretice. E, acredito fielmente que aprendi muito mais sobre artes estudando com verdadeiros mestres do que enfurnado numa universidade presos a preconceitos e teorias metódicas.
Minha formação em artes, é de livre docência... estudei artes no meu tempo, não no tempo dos professores. Por isso mesmo, pelas minhas próprias observações fui capaz de pintar e desenhar rapidamente. Meus próprios estudos agregados a experiência dos grandes mestres da pintura que tive orgulho de me apresentar um a um de cada vez....

Com relação as diferentes áreas de estudos que pratico e sempre fui criticado por isso, (principalmente por quem estuda pouco) fez meu espírito crescer e se desenvolver, isso se dá na minha arte aos diferentes estilos de pintura que faço.
Minha esposa formada numa das melhores escolas de artes plásticas, no começo pesava para que eu me dedicasse há apenas “um (01) estilo de arte”, como todos meus mestres fizeram e a universidade da minha esposa a impôs. Eu diferentemente sinto a necessidade de criar e criar, e para toda a minha criação ela tem que ter sentido. Sou contra a criação pela apenas a criação.
E foi com as nossas economias (principalmente da minha esposa) posso me dar o luxo de ficar em casa pintando o que eu quero, da maneira que melhor me convir. Numa escola de arte eu teria sido podado. Com certeza!
As escolas, e principalmente as universidades são limitadas, fabricam preconceitos como as religiões e nos podam sem medo de errar... e o pior? nos ensinam um monte de coisas inúteis e nos diz que é especialização (totalmente ultrapassada) e não nos dão ferramenta alguma para termos uma visão holística do mundo (mas eu aprendi!).

Agnaldo, isso não é um desabafo... é um pouco de quem eu sou... se amanhã eu vou pintar só isso ou aquilo (por causa do mercado de arte) eu não sei. Só sei que hoje eu pinto o que a minha alma e a minha sensibilidade me permite...

Obrigado mesmo pelo sua pergunta, de coração, demorei a responder, tive que pensar bastante e principalmente, me deixar a ser quem eu sou, sem eu ter que ficar com medo de me expor... está ai...

Abraços sinceros...
 
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